segunda-feira, janeiro 02, 2006

Cotão

Acumula-se debaixo das camas e nos cantos que a empregada (para os afortunados) se escusou a aspirar.

O dicionário diz, a seguir a cotão: "lanugem de alguns frutos; pêlo que largam os panos; cisco que se junta no forro e bolsos dos fatos, por detrás dos móveis, etc." Por «etc.» eu entendo umbigo. Dá-se neste blog(ue?) liberdade a cada um que leia os «etc.s» como muito bem lhe aprazer.

Desculpada que está a falta de originalidade no início deste cigarro, escrevo agora do cotão que varremos com as costas das mãos quando vamos buscar um álbum de fotografias antigo. «Certo, mas porquê cotão?» Bem, porque, depois de frustradas muitas outras tentativas de alcunha para este blog(ue?), me lembrei de cotão, é uma das verdades. É, contudo, também verdade que esses álbuns de fotografias de onde vassouramos cotão fazem parte de mim, como os vossos álbuns de fotografias farão de vós. Tudo o que se possa dizer, todos os cigarros que se possam fumar, fumam-se com uma metafórica bola de cotão agarrada aos punhos. Quem somos hoje, o que dizemos agora, começou a ser e a ser dito desde que nascemos. Todos os pontos finais tiveram um parágrafo que não se sabe onde no tempo teve lugar.

Sim, o Homem renova-se. Mas não tanto que se esqueça de tudo. Agarrado como sou ao que é meu (e nada é tanto meu como o que eu já vivi), venho então eu mais todo o meu cotão para aqui fumar cigarros.

Até breve.


Martinho