quarta-feira, maio 23, 2007

Aconteceu a um amigo meu (a pedra)

A ausência instala-se como se fosse uma novidade. Conquista território, não se expande para além das partes do corpo que normalmente acolhem emoções, principalmente o peito e a alma, mas toma inexoravelmente conta de mim. Exerce um peso, na nuca, em particular. Se tivesse uma banda sonora, seria um zunido. Despoleta um sentido de fraqueza, mas a última coisa que me ocorre é comer. Ligado à máquina, desenharia uma linha contínua, com raras oscilações, que mais não seriam que suspiros.
Os olhos ficam secos de pouco pestanejarem, fixados num ponto sem culpa, e um abraço teu era tudo o que eu queria.

Martinho

terça-feira, maio 22, 2007

Até breve, muito breve

(this one goes out to the one[s] I love)

Porque passamos tanto tempo juntos.

Porque nos entregamos, confiamos à palma das mãos uns dos outros as relíquias que os avós nos legaram.

Porque temos ombros feitos paciência, feitos almofadas, em horas desfiadas, depois de tudo dito, depois de nada mais a dizer, mas ainda muito antes de estar acalentada a alma, a torturada alma.

Porque depois da dor, depois de dilacerados pela locomotiva em movimento, cada vez mais veloz, estão os enfermeiros sem bata, de sorriso calmo e muito terno, voz morna, toque doce macio, e um dedo que nos aponta para amanhã.

Porque... enfim, porque na amizade que nos une, os laços que construímos são porosos, e deixam passar o ar que se respira.

Mas porque um dia se parte, por uma escassa hora ou de vez, porque um dia se parte, saibam-me aqui, humilde, nú, a dizer-vos que vos amo.


Martinho