sábado, janeiro 07, 2006

O amor, esse louco?

Que propósito servirá, afinal, estarmos apaixonados?

Tenho vindo com os anos a aprender uma lição qualquer sobre o quanto temos que nos despir de tudo, para depois, só nós, sem roupa, ou vestimentos de outra natureza, só nós sem mais nada, podermos amar. Amar, e viver esse amor.

Alguém aí sabe para que serve apaixonarmo-nos, se depois afinal o amor não vem de nenhuma labareda, antes de um fósforo perpetuamente aceso?

É já muito tarde, estou acordado há demasiadas horas para estar a tentar fumar este último cigarro, como os que fumo à porta de casa, numa tentativa algo inútil de captar aquela essência, aquela magia que me fora prometida, mas que de alguma forma se evaporou por entre o fumo e o barulho das luzes. Aqui apago a beata, gasta sem que me tivesse dado conta da passagem do tempo.

Viva a inspiração da madrugada...


Martinho

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Cotão

Acumula-se debaixo das camas e nos cantos que a empregada (para os afortunados) se escusou a aspirar.

O dicionário diz, a seguir a cotão: "lanugem de alguns frutos; pêlo que largam os panos; cisco que se junta no forro e bolsos dos fatos, por detrás dos móveis, etc." Por «etc.» eu entendo umbigo. Dá-se neste blog(ue?) liberdade a cada um que leia os «etc.s» como muito bem lhe aprazer.

Desculpada que está a falta de originalidade no início deste cigarro, escrevo agora do cotão que varremos com as costas das mãos quando vamos buscar um álbum de fotografias antigo. «Certo, mas porquê cotão?» Bem, porque, depois de frustradas muitas outras tentativas de alcunha para este blog(ue?), me lembrei de cotão, é uma das verdades. É, contudo, também verdade que esses álbuns de fotografias de onde vassouramos cotão fazem parte de mim, como os vossos álbuns de fotografias farão de vós. Tudo o que se possa dizer, todos os cigarros que se possam fumar, fumam-se com uma metafórica bola de cotão agarrada aos punhos. Quem somos hoje, o que dizemos agora, começou a ser e a ser dito desde que nascemos. Todos os pontos finais tiveram um parágrafo que não se sabe onde no tempo teve lugar.

Sim, o Homem renova-se. Mas não tanto que se esqueça de tudo. Agarrado como sou ao que é meu (e nada é tanto meu como o que eu já vivi), venho então eu mais todo o meu cotão para aqui fumar cigarros.

Até breve.


Martinho

Cigarros

Uma boa conversa é frequentemente desculpa para se fumar um cigarro. Como estou em casa e coabito com não-fumadores convictos, e eu próprio dispenso a neblina nicótica permanente, não podendo então fumar, venho tentar encontrar aqui um substituto dos meus Luckies: um post (a que me referirei doravante como um "cigarro").

Ante a falta de um interlocutor, como me aconselham a prudência e a sensatez, melhor seja que escreva do que fale sozinho. Tentadora que seja a ideia, ainda não me sinto atacado por nenhuma forma de demência além da que advém do simples facto de se estar vivo.

Uma boa conversa foi também o que gerou este blog (ue? - não me consigo decidir). Obrigado, Tiago, pelo estímulo.

...E assim nasce este cigarro. Que este seja então o primeiro de muitos. Com todos os proveitos que a escrita tem, e sem os malefícios dos Luckies.

Mais se seguirá.


Martinho