quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Quatro gatos



Tenho quatro gatos pendurados no telhado. Todos os gatos são pretos. Uns são maiores que outros. Nunca se afastam, mas nunca se tocam. Não se sabe o que leva quatro gatos a nunca saírem do mesmo sítio, sem porém que nunca sosseguem, nunca se deitem, nunca repousem, nunca se sentem. Não dançam, não correm, andam, quietos e andam. À volta, sem nunca irem a lado nenhum.
Também há vidas assim. Se calhar quero os gatos pendurados no telhado para me lembrar que posso sair sempre que queira, que sou livre. Mais ainda, que devo sê-lo.
Também pode ser porque os gatos são ternos, e, bem, porque me lembram de ti. Deixe-se lá isso do telhado e das danças e das vidas. Tu estás aqui ao pé de mim, debaixo do meu telhado.
Martinho

Rua

Rua. Frio. Sol, mas frio.
Buzinas. Vozes, vozes na rua. Frio. Exaltação. Vozes. Gritos? Vozes. Vozes altas. Vozes duras. Frio. Carros. Um bocejo. Do frio? Nervoso. Carros. Pulsação a subir. Peão verde. Passeio, asfalto, passeio. Dedos no ar. Vozes. Veias. Vozes tremidas. Vermelhidão. Frio, mas vermelhidão do calor. Vozes iradas. Dedos no peito. Peões. Ouvintes. Das vozes. Da raiva. Espectadores. Da raiva, do murro.
Do outro lado da rua. As vozes. Atrás, já. Vermelho. O olhar. Ainda. O olhar vermelho. Verde. Peão verde. Os passos. A esquina. Mais passos. As vozes sumiram-se nos meus passos.
Martinho
*co-produção blogue - bloco de notas (2II06)

sábado, fevereiro 04, 2006

Chegou o Verão

Pronto, é mentira. Só apetecia que fosse verdade. Passar estes meses a sorrir quando se vê o sol pela janela da manhã, mas só esporadicamente, para logo em seguida sentir a agonia de fechar rapidamente a janela porque tudo não era senão fogo de vista, só dá vontade de ligar a televisão na TVI, e esperar pela parva comédia da tarde, para que chegue a noite, e logo se ignore se fez sol ou chuva durante o dia. Ao menos de noite é sempre de noite, só. Tenho uma qualquer célula a gritar-me que me queixe mais, mas das queixas estou já enfadado.
Tenho estado ausentíssimo da blogosfera por não ter tempo nenhum, e no nenhum que me sobra só ter queixas e mais queixas. Não tem surgido nada de alegre ou brilhante para escrever. Bem, hoje lá levais com as vísceras.
Ao menos é sábado, e noite já. Venha o Bairro Alto, e nele o olvidamento que me está agora a faltar. Sim, estou a ver o quadro à distância, e isso é tudo menos bom.
Passada que está a ira de achar que tinha perdido este um cigarro há tanto aguardado pelas multidões de bloguistas, eis o publico.
Até mais,
Martinho